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Um pretinho velho feito por mim |
Axé pessoal! Adorei saber que muitos querem saber os porquês de suas práticas dentro da Umbanda, que muitos se sentem mais seguros quando há lógica em suas ações ritualísticas e que fundamentar só fortalece a relação com a religião e com o pai/mãe espiritual.
No entanto, não é fácil, tem que ter um olhar amplo sobre o assunto em questão, compreender um pouco do passado, do presente, da ancestralidade e da tradição, entender o sentido emocional, relacional, racional, energético, saber lidar com a sensibilidade, intuição e ainda ter muita capacidade de discernir. É necessário abrir todos os sentidos e saber ouvir, olhar, sentir, respirar, enfim, são tantas coisas que nem sempre conseguimos as respostas dos porquês, nem sempre compreendemos a grandeza de alguns atos com lógica e nem sempre percebemos o sentido ou o fundamento de certas ações.

É necessário estudar e praticar para agir com saber.
Essa afirmativa tem como base a compreensão das diferenças e da diversidade como expressão máxima da existência e como alicerce para construção da unicidade. Importante compreender, a diversidade garante as trocas e as relações, permite interação e inclusão e ainda favorece uma vida com alteridade. Dessa forma alcançamos a compreensão que nós existimos a partir do Outro para viver e nos relacionarmos com o Outro. Isso é Divino!
Também se apóia na educação africana que tem o cotidiano como embasamento de sua cultura, que tem o conhecimento vivenciado como fonte de sabedoria, que tem o ancião como portador de sabedoria que ensina através da generosidade, discrição, simplicidade e bravura. Mãe Stella de Oxóssi, escolhida para ser a quinta iyalorixá do Ilê Axé Opó Afonjá fundado em 1910, afirma: “no terreiro tudo é questão de aprendizado”.
E ainda, na importância da comunidade, do grupo, de pessoas juntas vivenciando juntos, o dia a dia – a africana Sobonfu Somé, uma das vozes mais importante na espiritualidade africana, reconhecida pelos anciãos da aldeia como possuidora de dons especiais desde o nascimento, autora do livro ‘O espírito da intimidade’, afirma que “a comunidade é o espírito, a luz-guia da tribo; é onde as pessoas se reúnem para realizar um objetivo específico, para ajudar os outros a realizarem seu propósito e para cuidar umas das outras. O objetivo da comunidade é assegurar que cada membro seja ouvido e consiga contribuir com os dons que trouxe ao mundo, da forma apropriada. Sem essa doação, a comunidade morre. E sem a comunidade, o indivíduo fica sem um espaço para contribuir. A comunidade é uma base na qual as pessoas vão compartilhar seus dons e recebem as dádivas dos outros”.
Portanto, viver em comunidade é uma relação de aprendizado ímpar que nenhum livro ensina, da mesma forma que o aprendizado adquirido através dos livros são únicos em estrutura, direcionamento e racionalidade.
Novamente afirmo, o Saber se constrói com estudo e prática, com a ciência e a vivência entrelaçadas, com o dia a dia, com o fazer contínuo, com a busca permanente, com movimento real e o olhar Além.
Penso que não adianta muito estudar, muito ler, muito saber e não colocar em prática, não compartilhar, não se movimentar. Lembro do romance “Dom Casmurro” escrito em 1899 por Machado de Assis, que faz uma significativa crítica aos leitores que devoram livros, mas que não sabem, não aprendem, não entendem nada do que está escrito, comparando-os a “vermes gordos”.
Da mesma forma penso que a fé cega não dura, que o amor sem conhecimento é ilusão, que não se chega se não souber onde se quer ir e que não se encontra se não souber o que se busca.
Entendo ser esse o caminho para alcançar o equilíbrio das atitudes com os sentidos, dos porquês coerentes, das lógicas sensatas, dos fundamentos coesos, das ações sábias, da vivência verdadeira e principalmente, conciliar o Agir com o Saber.
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